light gazing, ışığa bakmak

Monday, May 27, 2013

santa apolónia

o cais de santa apolónia foi uma das apostas da câmara municipal e do turismo de lisboa para a chegada dos grandes paquetes. todos os dias ali atracam os ditos hotéis flutuantes, altos como uma colina, com as suas varandas envidraçadas debruçadas para a cidade. esta tarde talvez fosse de uma das varandas do Seven Seas Voyager que uns viajantes acenavam. do outro lado da avenida Infante D. Henrique, dois pedintes sentados num degrau da estação davam pão a um bando de pombos. um pouco adiante, debaixo do viaduto, mora uma quantidade de gente: sem bilhete, sem passaporte, sem doces sonhos embalados, sem lenços brancos.


o carro do google tira o retrato que a cidade não quer mostrar. há demasiada gente expulsa neste país, há demasiadas franjas. e são cada vez mais. na sopa dos pobres da almirante reis, onde trabalhas as noites, alguns, muito poucos, têm lugar para dormir, para tomar banho, comer, tomar medicamentos. eles são o refugo em forma de gente. ela chegou a dizer (quando eu lhe contava): nem fales nisso que até fico mal disposta. e não falei.

um sentimento curioso que vi em Abelaira foi a culpa de não fazer nada (a culpa do pequeno burguês instalado), a culpa justificada da maioria em silêncio que permite o estado da coisa. em Sttau Monteiro o mesmo, apesar do barulho. este silêncio não é de hoje.

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