Americans. diria que uma das características que lhes encontro, desde logo, é a generosidade. depois disso talvez uma inocência estranha e trágica.
Lisboa, a cidade branca, tão pequena mas tão gloriosa cobrindo as colinas, a luz fere os olhos e os estrangeiros enchem-se de óculos do mais negro possível mas continuam a piscar os olhos sem conseguir conter a luz.
foi uma oportunidade: visitar o uss mount whitney, navio de comando das forças americanas e da nato para a europa. existe apenas outro navio com função semelhante que está colocado na ásia. mal tinha atracado, numa que imagino das primeiras viagens depois de ter sofrido trabalhos profundos de manutenção em Itália, iniciamos a visita. no portão perto do jardim do tabaco (onde os restaurantes estão fechados por falência, se não me engano), é preciso esperar: há apenas um guarda, português, que tem a chave e esse guarda foi a qualquer lado. passado finalmente o portão recebemos instruções, não correr, não sair do pé do grupo, etc., instruções acima de tudo para a segurança dos mais pequenos. um navio pode ser de guerra mas não deixa de ser um navio, com muitos locais perigosos para adultos e crianças. a visita é excitante e incómoda: aqui, e apesar do navio ter quarenta anos de idade, sei que encontrarei equipamento do mais avançado que existe. aqui também se encontraram os chefes de estado dos vários países da nato para comandar as operações na líbia. este é um navio de comando, não tem muitas armas a não ser as poucas que vemos, o que tem são capacidades de comunicação e intelligence. dentro do navio existe uma pequena América: gente das mais variadas origens, negros, brancos branquíssimos, asiáticos, latinos, muitas mulheres. neste navio duas tripulações: a tripulação propriamente dita e civil, e os soldados. (qual a diferença? os primeiros podem-se despedir; os segundos, ao assinar o contrato, colocam a sua vida ao dispôr)
subimos ao convés de onde olhamos a cidade branca e que bonita é neste dia de Maio. podia ter sido também em Maio, em 1975, que um navio americano mas não este estava pronto a intervir nos nossos cravos. isso não aconteceu e hoje se não somos livres podemos olhar ao espelho.
temos vários guias, todos os soldados são simpáticos e especialmente amigáveis com as crianças. têm alianças e penso que também eles têm filhos em casa que não vêem há algum tempo. visitamos uma grande parte do navio: a cantina com o café a que chamamos de saco, os molhos, o Ranch e o syrup para as breakfast pancakes, o buffet de saladas. há uma sala de estar com uma televisão de grande formato, mas esta é apenas uma das messes; uma sala-depósito de jogos electrónicos e vídeos, mais dos que há nas nossas lojas, a cozinha com as suas grandes panelas, descemos à máquina onde nos explicam o funcionamento das caldeiras e das portas de segurança e onde um maquinista vem ao encontro do grupo com um sorriso e fala do funcionamento de tudo aquilo, apontando; subimos à ponte, os miúdos fazem fila para tirar fotografias na cadeira do comandante, podemos ver as cartas, espreitar pelos binóculos, pôr as mãos no leme; saímos à asa da ponte e de lá vemos o rio e o cristo-rei. em baixo, um grupo de cadetes respondem às mil perguntas de todos no grupo. descemos ainda à sala de controlo, onde se reúnem as chefias militares mas há mais salas como esta: mesas de reunião e uma panóplia imensa de computadores, controlos, ecrãs. é o centro de informação: daqui podem ouvir e ver tudo (e mesmo assim às cegas). mostram-nos aquilo com orgulho. os tripulantes que fazem a limpeza (nem vejo de quê, tudo brilha, não há um grão de pó ou óleo em lado algum, os metais reluzem) sorriem-nos quando passamos.
diz que hoje foi o Memorial Day. quis visitar o cemitério americano no Luxemburgo mas não houve tempo. um pouco à frente, o cemitério alemão, com muito menor glória. quando assisti ao render da guarda em Arlington, sob o calor abrasador de Agosto em Washington, não foram os ângulos dos movimentos das botas dos soldados o que mais me impressionou, nem a seriedade na cara dos visitantes, mas sim as colinas brancas, não as da bela lisboa, mas as colinas de marcos brancos na relva de Arlington.
light gazing, ışığa bakmak
Sunday, May 26, 2013
uss mount whitney (2) na cidade branca
Publicado por
Ana V.
às
11:18 PM
TAGS Negócios Estrangeiros, Stuff
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