ou de como somos embalados assim ou assado em várias línguas. cada povo auto ilude-se como julga melhor, cada povo escolhe os seus líderes e depois tem de enfrentar esse casamento. a televisão aqui passa anúncios a quase metade do tempo. o resto são séries turcas, modernas ou antigas, valentes bigodes e homens-macho com fios de ouro, tão kitsch que apetece ver. há as séries estrangeiras do costume, a pílula embalada, e alguns poucos canais de notícias. as notícias são controladas, pois claro, e a imagem que se tem do país vendo as notícias é tão truncada como a imagem de Portugal vendo as notícias (ou a imagem de Portugal lendo só os livros de história da primária). a ditadura política tem uma vantagem: quase todas as notícias são boas.
um dos anúncios parece-me especialmente bem feito e ponho-me a ver naquela atitude de ver anúncios indefinidos: o que é que me querem vender? mostra-se uma vivenda turca, próspera mas não rica, com um pátio, as flores e trepadeiras, os bancos na rua, um avô sentado e uma neta a brincar, um vestido branco. um homem sentado à mesa e chega o seu irmão com quem não se dava há anos, imaginamos, e milagre (força de expressão) os dois abraçam-se num forte abraço de reencontro. o que vende este anúncio? é propaganda ao akp de Erdogan.
no ramadão não se vê comer, à excepção da refeição comunal da noite, nem beber ou fumar. as ruas estão limpas, por todo o lado há famílias com crianças pequenas, não há lixo, podia ser o sonho de uma sociedade em que todos são bondosos.
ontem eram distribuídos doces e rebuçados na praça principal das mesquitas. há muitas famílias inteiras que passam ali muito tempo sentadas nas mesas e cadeiras, ou na relva, com as crianças a brincar em torno delas, os homens e as mulheres deitados a dormir.
dentro do palácio é uma avalanche de turistas, mas não apenas os turistas ocidentais, na maior parte espanhóis e italianos que Taksim deve ter assustado os anglófonos, muitos são turistas das arábias, homens que chegam com várias mulheres das que têm apenas os olhos à vista, algumas até com óculos de sol, e as suas crianças. destas mulheres, muitas têm os olhos verdes ou claros, as turcas têm olhos castanhos. no palácio, na sala das relíquias com coisas estranhas como a pegada de Maomé ou o bordão de Abraão, as mulheres cobertas entram em grande inquietação, tiram os telemóveis para tirar fotos, estão ansiosas por ver aquilo. à entrada dessa sala os guardas distribuem lenços às mulheres que vestem camisolas de alças; os ombros nus das mulheres e a pegada do profeta combinam mal.
o lenço na cabeça, ou a sua ausência, é um modo forte de identificação, por esse sinal se conhece a mulher.
é-me difícil pensar, por muito que tente, de um modo claro. quando saio de qualquer lado tenho de tirar o meu lenço por causa do calor, para conseguir sentir a pouca brisa. esta necessidade física impede-me de pensar claramente; qualquer que seja a minha conclusão, vai sempre ser filtrada por este calor que sinto e pela necessidade daquela brisa.
light gazing, ışığa bakmak
Friday, August 9, 2013
a tv,
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