light gazing, ışığa bakmak

Thursday, March 13, 2014

pai e mãe

os jovens que julgam que mudar fraldinhas e não dormir de noite resume toda a dificuldade de fazer nascer e criar os pequenos índios e índias que serão adultos, com optimismo, duas décadas mais tarde - fazem-me sempre sorrir com ternura. é que eles não sabem ainda o que é fazer uma festinha de anos para um miúdo de 8 ou 9 ou 10 ou... ou para uma miúda da mesma idade (o mais stressante dia do ano já há muitos anos). também não sabem ainda o que é ir pôr e buscar (e esta altura ainda nem é tão má) os filhos adolescentes às festas de outros adolescentes. porque apareces à meia-noite quando toda a gente só ia para casa às duas, ou apareces às duas quando toda a gente só ia para casa às quatro. e os trabalhos de casa, os testes, as reuniões com as professoras ou os telefonemas da escola, os namoros, os braços e pernas e cabeças partidas e torcidas ou cheias de sangue, as varicelas e as gripes e vacinas, as trezentas mil actividades importantíssimas e as birras nas lojas cheias de tralha de plástico que custa uma fortuna e faz uma barulheira despegada, a meia hora a pentear o cabelo das miúdas, a meia hora a tentar conseguir chegar o pente à cabeça dos rapazes, as lancheiras, os convites e as festas, os testes para a faculdade, as negas, as explicações, as meias espalhadas por todo o lado, conseguir enfiar um colher de papa verde na boca da criança que te cospe da cabeça aos pés, a vergonha que passas nos sítios onde tinhas dito ali tens de te portar extra-bem, as vinte vezes que é preciso parar para fazer xixi em sessenta quilómetros de viagem, já para não falar das três malas cheias que acompanham uma criatura que cabe dentro de um balde quando a ti chegava uma mochila e das médias. o boneco para dormir, aquela chucha que se desaparece o mundo acaba, a fralda nauseabunda quando acabas de te sentar para dar a primeira dentada no hambúrguer. a tal fraldinha.

e, posso bem dizer, não há absolutamente nada na vida que sequer lhe chegue remotamente ao pé. o meu mais novo vai fazer dois dígitos pela primeira vez na vida. tecnicamente, estamos a meio caminho.




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