light gazing, ışığa bakmak

Sunday, July 6, 2014

vinho capitoso

"Atrás do açúcar veio o vinho capitoso, o porto interposto aos continentes, a abreviatura fantástica das paisagens mais belas e sedantes que o ocioso busca na Terra: montanhas a mil metros, mas também vales aconchegados; interior serrano e recessivo, mas sobretudo costa em anfiteatro. Do brote vulcânico primitivo restam falésias a nu ao rés do litoral, mas a estrutura interna e escoriácea da ilha foi mais ou menos recoberta de uma vegetação caridosa. O corpo eruptivo sossegou, a erosão trabalhou por toda a parte como um cavador diligente e pobre que ajeita o seu pedregal para lenha e culturas. Simplesmente, estes lavradores geomórficos não pensam muito no homem, trabalham para a vista das aves, dos aviadores, dos turistas. Mas tudo é cortado de ravinas, depositado ao fundo de gargantas espiadas do alto por picotos só bons para pássaros ou talvez para alpinistas. E o madeirense, esmagado pela paisagem, acaba por viver como uma formiga caída na dobra de um pão de muito sôlo." Vitorimo Nemésio no livro A Madeira na obra de escritores portugueses, de Rui Nepomoceno, que vi no balcão da Esperança. excelente.

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