light gazing, ışığa bakmak

Wednesday, July 2, 2014

midsommer

quando cheguei disse a uma senhora da loja de souvenirs, que pela idade parece que já cá está há muitos anos, cheguei ao paraíso. e deu-me um olhar mais do que surpreendido, confuso a tentar entender por que razão se diria tal coisa. para ela tudo isto está muito longe de se parecer com o paraíso. entrámos no midsommer, passeamos em eastbourne a olhar para o mar, falta só o pavilhão a entrar pelo mar. junto à água há pedras, o café é aguado e a música ao vivo no bar na happy hour emite canções dos anos cinquenta enquanto alguns casais, uns mais idosos do que outros, beberricam o seu aperitivo e dão um pé de dança.

o que acontece quando esta geração chegar ao fim? há outra, a que trabalha nos vários pubs da cidade.  nunca fui a gibraltar mas para além dos macacos isto não deve ser tão diferente em sentimento. um pouco démodé, as cores suaves, os jardins. ao pequeno almoço, duas senhoras calam-se quando nos sentamos ao lado até entenderem que somos portugueses e que (sim, como todas as outras famílias portuguesas, invadimos o pequeno almoço vinte minutos antes da hora de fecho). depois continuam a conversa sobre filmes, a shirley mclane, os concursos e as séries. as pausas acontecem só quando metemos palavras inglesas na nossa conversa.

a quantidade industrial de quartos indica logo um hotel de massas, ao velho estilo (e também ao novo, não tanto em portugal mas por outros lugares). felizmente balançámos para o sentido oposto. o que temos deste estilo é personificado precisamente pelo Pestana que nos ficou com as pousadas. não deixa de ser algo estranho até porque as pousadas se baseavam na ideia oposta: cada uma ser única, reflexo de uma história particular num local particular.

o que existe é fruto apenas dos desejos do seu tempo. se para mim tudo se dilui, interessam-me sobretudo esses mesmos, os desejos e o tempo. a eterna melancolia.

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