light gazing, ışığa bakmak

Monday, October 22, 2007

Breath/Fôlego de Samuel Beckett

"Breath", um curta peça de Samuel Beckett, aqui em filme dirigido por Damien Hirst. Vi-a há anos no Teatro do Chiado, com uma encenação excelente de Mário Viegas, que tem feito muita falta ao Chiado e a Lisboa.



E o texto:

CURTAIN

1. Faint light on stage littered with miscellaneous rubbish. Hold aboutfive seconds.

2. Faint brief cry and immediately inspiration and slow increase of light together reaching maximum together in about ten seconds. Silence and hold for about five seconds.

3. Expiration and slow decrease of light together reaching minimum together (light as in 1) in about ten seconds and immediately cry as before. Silence and hold about five seconds.

CURTAIN

RUBBISH
No verticals, all scattered and lying.
CRY
Instant of recorded vagitus.
Important that two cries be identical, switching on and off strictly synchronized light and breath.
BREATH
Amplified recording.
MAXIMUM LIGHT
Not bright.
If 0 = dark and 10 = bright, light should move from about 3 to 6 and back.

---

Da wikipedia, e a propósito de Damien Hirst ter escolhido lixo médico para preencher o lixo que é pedido no guião: “When I was asked to direct this film, I read the text and thought it was incredibly precise and strict. While preparing to shoot, I kept reading the text over and over and what focused me was Beckett’s direction ‘hold for about 5 seconds’. That was when I realised that Beckett had this massive sense of humour.”

Para "explicar" esta peça (mas explicar?), se alguma explicação é necessária ou, antes, para quem precisa de ter o seu campo de leitura limitado por barreiras, gostei do artigo da wikipédia que liga este movimento de inspirar/expirar a uma frase de Pozo no "À Espera de Godot": "They give birth astride a grave, the light gleams an instant and then it is night once more". A vida, como é, curtíssima, sem história. E que instante precioso temos.
---

Não resisto... a minha versão portuguesa com os habituais pedidos de desculpa pela má qualidade da tradução (espero que não assassínio).

Fôlego
Samuel Beckett

PANO

1. Luz pouco intensa sobre um palco com algum lixo espalhado. Suster durante cerca de cinco segundos.

2. Um choro desmaiado e breve. Imediatamente a seguir, inspiração com um aumento lento da intensidade da luz que atinge o máximo em cerca de dez segundos. Silêncio e suster cerca de cinco segundos.

3. Expiração e diminuir simultaneamente a intensidade da luz até atingir o ponto mais baixo (a luz como no ponto 1.), em cerca de dez segundos. Imediatamente a seguir, um choro desmaiado e breve, como antes. Silêncio e suster durante cinco segundos.

PANO

LIXO: Nada na vertical, tudo espalhado e deitado.
CHORO: Instante de vagido gravado. É importante que os dois choros sejam iguais, ligando e desligando a luz e a respiração.
RESPIRAÇÃO: Gravação amplificada.
LUZ MÁXIMA: Não muita luminosidade. Se escuro fôr 0 e claro fôr 10, então a luz deve mover-se de 3 para 6 e de volta a 3.

3 comments:

cabecinhapensadora said...

Olá (e agora chamo-te como?)
Pronto, já cá estou. Agora és dulce meia? Uma meia docita? tá bem. Como dizemos no Alentejo, "saúde da boa para a dulce meia".
E não sejas redundante. Mário Viegas faz falta. E ponto.
Quanto ao exercício de respiração do Samuel...é afinal o que fazemos. Se não nos roubarem o ar de viver. Ou, se calhar, só para termos "saúde da boa".
Gosto do ar que respiras.beijo*

jorge vicente said...

eis-te de volta, com o teu (nosso) magnífico Beckett.

O Mário Viegas não faz falta só ao Chiado e a Lisboa. Faz falta ao nosso país inteiro.

Um beijo
jorge

Ana V. said...

Cabecinha, estás zangada comigo? Dulcemeia, uma palavra criada para mim pela Marta Alexandra Duarte e que adoptei logo... Aqui vou postar menos (uff!) e vou responder muito menos. Podemos dialogar nas MP do SOL porque continuo lá. E são todos os 27 muito bem-vindos. Leiam lá a frase que vos diz respeito, aquela que diz que a vida é um instante...

Jorge, grandes grandes beijos para ti. Ana

 
Share