.
- VELHO LAVAGANTE - respondo eu. E ele compreende e sorri.
(Dias antes tinha-lhe perguntado: "Sabes alguma coisa da vida dos lavagantes?". "Para mim", dissera ele, "um lavagante é um crustáceo primitivo, sem grandes requintes na cozinha. É mais saboroso que a lagosta e parece que mais selvagem porque não se adapta tão bem aos viveiros. Julgo que é tudo."
Então expliquei-lhe que o lavagante é principalmente um animal de tenebrosa memória, paciente e obstinado, e terrível nos seus desígnios. Contei-lhe como ele serve o safio que está nas tocas submersas levando-lhe comida a todas as horas, e como a sua existência anda presa a essa serpente estúpida de grandes sonos, vendo-a engordar, engordar, até saber que a tem bloqueada, incapaz de sair do buraco porque o corpo cresceu de mais, enovelou-se, e não cabe na abertura por onde podia libertar-se. "Nesse momento, fica sabendo, o lavagante servil aparece à boca da toca do safio mas já não traz comida. Vem de garras afiadas devorar o grande prisioneiro que alimentou durante tanto tempo.")
Excerto do novíssimo Lavagante - Encontro Desabitado de José Cardoso Pires. Um livro essencial, a ler já. Anos depois da morte do escritor excelentíssimo, que tenho visto tão esquecido das prateleiras, surge esta obra inédita, publicada pelo que foi o seu editor de muitos anos, Nelson de Matos. Este Lavagante serve também de obra primeira da nova editora Nelson de Matos. Com tais inícios, bons augúrios se anunciam. Vale a pena comprar já bastantes exemplares, um para uso próprio, os outros para ir presenteando todos os membros da família e amigos ao longo do ano.
light gazing, ışığa bakmak
Sunday, February 24, 2008
Vou deixar aqui um pedaço de marisco, nada mais do que um isco (para ti, Rui)
Publicado por Ana V. às 5:14 PM
TAGS Biblioteca de Babel
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
7 comments:
Foi só o maior escritor de Portugal.Coisa pouca:)
E dos maiores do mundo....
Anonymus ilustris... é muito bom, este livro. Fininho fininho, mas cada página vale muitas. Beijo.
Desconfio que há muito lavagante por aí... com muito mel, muito mimo, e depois !tuca!.
Mas pensemos antes em coisas boas, alegres, em momentos de existência eternos, que é o que levamos desta vida. Beijinho grande e é óbvio que na próxima ida à Bertrand [que nervos, a Bertrand da minha zona ultimamente só muda os livros de sítio, novos novos, um ou dois e o resto, está quieto!] vou folheá-lo.
MAD a minha vida é um aquário deles. Mas depois há outras espécies.. Beijo e boa folheadela!
não se pode fazer anos dois dias por ano?
:))))) acho que já ganhaste esse direito!
Post a Comment