a meiguice branca do Alentejo
claro que sou turista ocidental, à procura do que é bom, esquecer o mau. não tenho memória nem registo de histórias, fome, doença, pestes ou provações. vejo tudo a branco, toalhas à janela. as santas são de barro colorido e o inferno não era aqui. manjar celeste.
Badajoz, muito antes e muito depois de ser a cidade do desejo lusitano, já era a cidade das torres. são várias espalhadas pela cidade, muitas delas em mau estado de conservação. não sei se a memória dos cercos e batalhas é ali próxima demais, se a memória dolorosa atira o tempo para a frente na direcção do futuro. tudo se comercializa e as defesas de pedra dão lugar largo ao redondo das rotundas de boas-vindas. seria interessante contar as placas que dizem "Carrefour" e esgrimi-las contra as que dizem "torre Espantaperros", ainda para mais imaginando que os perros somos nós. ("Por desgracia, los actuales accesos y el mantenimiento de la torre no permiten ser abierta al público."), bela torre octagonal anterior à torre de ouro de Sevilha. pelas ruas muito europeias de Badajoz procuro o branco e não o encontro. laranjas, amarelos e ocres, cores da Espanha. como se muda a paleta numa distância tão curta. e é no rendilhado das ruas mais velhas e das pequenas casas sinuosas que se amontoam, ruínas e pobreza, que o encontro. pode não passar de conjectura ou sonho alto, mas fantasio no passado apagado à força de cor e, neste caso, eu teria de entrar em Badajoz coberta de ocre.
quem precisa de rebajas quando as ruas de Elvas estão aqui ladeadas de atoalhados e lojas chinesas, indianas, lojas dos trezentos e aventais à porta. enquanto em Espanha se dorme a sesta, aqui está tudo cá fora, mulheres de pé, homens sentados. há um grande movimento em Elvas, regresso ao branco e às janelas trabalhadas, ferro forjado, muitas santas e preciosismos nas fachadas. por fora, cascas múltiplas de muralhas sucessivas e pequenos torreões nacionalistas e resistentes. estamos cá, Espanha! acima do pensamento correm as águas do aqueduto, as ideias a rasar janelas imaginárias.
No comments:
Post a Comment