light gazing, ışığa bakmak

Sunday, September 12, 2010

Blanche DuBois



é verdade que depois da Peça para Dois de Rita Lello e Pedro Giestas, tinha ainda desenhada na memória a mulher de Tennesse Williams. na altura vi o Glass Menagerie, de Paul Newman, com uma excelente Joanne Woodward e, logo de seguida, o Eléctrico e Vivien Leigh, ofuscada pelo desejo que morava no corpo de Brando. não podia apagá-las da memória.


na encenação do Eléctrico Chamado Desejo no D. Maria II, de Diogo Infante, faltou por completo o desejo. a personagem masculina, para além de ruidosa e -apesar do esforço- ficou com a violência, com o tom graçola, de esperteza. a dimensão desejo, de irracional, de paixão -corpo, animal, instinto, a força vital da masculinidade, força, domínio, enfim tantos adjectivos que podia ir deixando um rasto de palavras semelhantes. e todo ele ficou ao lado deste Stanley. não por falta de Blanche. Alexandra Lencastre tem tudo (ainda) e se era necessária confirmação, ela está aí. Uma excelente actriz que domina o palco, a história, e que chama a si a luz embora dela fuja, sem choro nem melodrama, gostava de a ver mais e mais, tantas são as personagens femininas que agora lhe ficam bem. que passou doze anos nas novelas, que ainda lá está, que todas as semanas lhe vemos a cara em bombas de gasolina e as "polémicas" e o que for, no palco encontrei Blanche Dubois, a face de um modo de vida em extinção, acreditava Tennessee Williams.

feito o elogio.. não tinha reparado, ou talvez me tivesse esquecido, de todas as frases relacionadas com luz, a fugir da luz, a luz inclemente, o conforto na escuridão, à luz do dia, e tantas outras que me fariam dobrar o canto da página, se fosse o tempo da representação um livro. outra relação que me tinha faltado, o final semelhante a As I Lay Dying, Darl Bundren também levado para uma dessas instituições onde guardavam os que fugiam da norma, apontado pela família mais próxima. julgamentos sumários. interessante ainda o contraste entre as duas mulheres, como mulheres e a sua forma de ver ou sentir a vida. (ainda a vizinha de cima, que não é senão o futuro de Stella). bem como a 'brincadeira', no sentido mais trágico, em torno do conceito de verdade no diálogo Blanche-Mitch. a verdade como o que desejamos.

finalmente, que triste ter um público que ri durante todo este Eléctrico. não sei se por falta do público, se por falta da encenação, este texto pareceu uma comédia pela frequência das risadas. não deixou de ser assustador, como ver alguém que ri com a morte de outrem. estava capaz de lá ir de novo, apesar disso.

(não sei de quem é a imagem)

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