light gazing, ışığa bakmak

Monday, December 7, 2009

livraria Buchholz







Conjunto de três fotografias sem data.
Produzida durante a actividade do Estúdio Mário Novais: 1933-1983.
e disponibilizadas pela Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian no Flickr.
duas Instituições, uma em fase de requiem, outra por quem todos os Laudate deveriam soar.


afinal nem a Leica quis sair da bolsa por vergonha púdica. um marulhar de dedos e de gente a mexer na roupa gasta do morto, um arrastar de pés nesta marcha fúnebre de remexer como um ladrão necrófago nos órgãos do morto, uma experiência escura para esquecer com urgência, assim como da gente prefiro a memória de passeios e gritaria se a houve ao já-mais-nada do velório. não aconselho o salto à liquidação da Buchholz, livros únicos a preço único a partir de um euro, menos saudável ainda do que ripar músicas alheias. um trote à Trama, isso sim. e se a Trama mudasse para a casa que se anuncia vazia? ah isso era.. impulse.


Oz

tenho pena de ter falhado a parte escrita do Feiticeiro de Oz, do que tentarei redimir-me em breve. a experiência Alice, a primeira leitura infantil online, abre a porta a outros clássicos fora do papel. a versão La Féria no Politeama está óptima para uma faixa etária que inclui umas tantas gerações. ali não há grandes novidades, um pouco como ver o filme a cores e ao vivo. mas há sempre lugar para uma nova leitura e uma nova versão. esta, uma graphic novel de Skottie Young, chegou via Ana via face via 2009 Graphic Novels no NY Times.



"My life has been so short that I really know nothing whatever. I was only made day before yesterday. What happened in the world before that time is all unknown to me. Luckily, when the farmer made my head, one of the first things he did was to paint my ears, so that I heard what was going on. There was another Munchkin with him, and the first thing I heard was the farmer saying, `How do you like those ears?'

"`They aren't straight,'" answered the other.

"`Never mind,'" said the farmer. "`They are ears just the same,'" which was true enough.

"`Now I'll make the eyes,'" said the farmer. So he painted my right eye, and as soon as it was finished I found myself looking at him and at everything around me with a great deal of curiosity, for this was my first glimpse of the world.

"`That's a rather pretty eye,'" remarked the Munchkin who was watching the farmer. "`Blue paint is just the color for eyes.'

"`I think I'll make the other a little bigger,'" said the farmer. And when the second eye was done I could see much better than before. Then he made my nose and my mouth. But I did not speak, because at that time I didn't know what a mouth was for. I had the fun of watching them make my body and my arms and legs; and when they fastened on my head, at last, I felt very proud, for I thought I was just as good a man as anyone.

"`This fellow will scare the crows fast enough,' said the farmer. `He looks just like a man.'

"`Why, he is a man,' said the other, and I quite agreed with him. The farmer carried me under his arm to the cornfield, and set me up on a tall stick, where you found me. He and his friend soon after walked away and left me alone.

"I did not like to be deserted this way. So I tried to walk after them. But my feet would not touch the ground, and I was forced to stay on that pole. It was a lonely life to lead, for I had nothing to think of, having been made such a little while before. Many crows and other birds flew into the cornfield, but as soon as they saw me they flew away again, thinking I was a Munchkin; and this pleased me and made me feel that I was quite an important person. By and by an old crow flew near me, and after looking at me carefully he perched upon my shoulder and said:

"`I wonder if that farmer thought to fool me in this clumsy manner. Any crow of sense could see that you are only stuffed with straw.' Then he hopped down at my feet and ate all the corn he wanted. The other birds, seeing he was not harmed by me, came to eat the corn too, so in a short time there was a great flock of them about me.

"I felt sad at this, for it showed I was not such a good Scarecrow after all; but the old crow comforted me, saying, `If you only had brains in your head you would be as good a man as any of them, and a better man than some of them. Brains are the only things worth having in this world, no matter whether one is a crow or a man.'

"After the crows had gone I thought this over, and decided I would try hard to get some brains. By good luck you came along and pulled me off the stake, and from what you say I am sure the Great Oz will give me brains as soon as we get to the Emerald City."

"I hope so," said Dorothy earnestly, "since you seem anxious to have them."

"Oh, yes; I am anxious," returned the Scarecrow. "It is such an uncomfortable feeling to know one is a fool."


- - -
a criação de um espantalho no The Wonderful Wizard of Oz, de L. Frank Baum. posso dizer que é o meu pedaço favorito.



"I recorded the digital drawing process of my Oz cover. I then print this out and ink it traditionally with brush and ink." (Skottie Young)

Sunday, December 6, 2009

butternut squash soup para amanhã

à janela


"Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora
pôr-se nu em casa até a escultura dar o sexo
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que um velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitroglicerina."

António Maria Lisboa, Projecto de Sucessão em Ossóptico
na Phala Um Século de Poesia

hazelnuts

detalhe técnico para um muffin.

"why is art more dangerous than murder?"


mandamento 2, mandamento 6. nunca tinha reparado. que agradável descoberta.

THE TEN COMMANDMENTS -- EXODUS 20:1- 17

1) "Thou shalt have no other gods before me."
2) "Thou shalt not make unto thee any graven image,"
3) "Thou shalt not take the name of the Lord thy God in vain;"
4) "Remember the Sabbath day, to keep it holy."
5) "Honor thy father and thy mother:"
6) "Thou shalt not kill."
7) "Thou shalt not commit adultery"
8) "Thou shalt not steal."
9) "Thou shalt not bear false witness against thy neighbor."
10) "Thou shalt not covet thy neighbor's house,.....nor anything that is thy neighbor's

- - -
a citação é de Leonard Shlain. embora, claro, as coisas não sejam assim tão descomplicadamente simples. a retórica sempre foi um jogo danadinho. (Leonard Shlain's lectures here)

se bem

que seja já no capítulo 3, encontrei na secção de book swapping um livro engraçado que começa com esta ideia:


"For the first two million years, both the hominid's body and brain slowly enlarged. And then over the next one million years, a remarkable change occurred: while its stature increased only minimally, its brain acquired one extra pound of neural tissue, primarily in the neocortex. At the same time, the brain's functions split up in two - a revolucionary development made necessary because evolution had to rewire one lobe to accomodate speech.

To place this event in context, a brief review of the brain is in order. All vertebrates, beginning with fish, have a bilobed brain. And each of these anatomically mirror-image hemispheric lobes perform the same type of tasks. The human brain lobes, while appearing symmetrical, are functionally different. This specialization is called hemispheric lateralization. There is evidence of this feature in some other vertebrates, but its manifestation in behavior (speech and handedness) are far more striking in humans than in any other species."

admitindo que coloco os testes right brain-left brain junto aos quizzes facebookianos e aos testes ele-é-o-homem-da-tua-vida? das crónica femininas actuais, também é verdade que nessa cultura pop das ideias feitas e pseudo-científicas, o lado esquerdo do discurso é normalmente associado à mulher, o espaço ao homem. Shlain troca estas voltas e "ends his book with an optimistic appraisal that the proliferation of images in film, TV, graphics, and computers is once again reconfiguring the brain by encouraging right hemispheric modes of thought and bringing about the reemergence of the feminine.", da contra-capa. de caminho atribui quase todos os pecados mortais da humanidade ao discurso linear e à linguagem.



Saturday, December 5, 2009

e assim foi

depois de jurar três vezes que nunca mais vou para a baixa durante o fim-de-semana, assim passou o lançamento de Hierofania dos Dedos, simpatia e familiaridade. parabéns ao Jorge.

Friday, December 4, 2009

Telemann, água e Bach



um regresso à sala da Gulbenkian, voltar ao Natal. fui pelo Telemann e pelos três trompetes da "casa" e acabei por gostar tanto do oboísta Pedro Ribeiro nesta obra e nas seguintes. um programa barroco já natalício onde afinal achei que ficava a perder a Water Music de Händel, ladeada pelos mais cintilantes concerto para três trompetes de Telemann (em trompete natural, julgo) e pelo grandioso Magnificat BWV 243 de Bach. absolutamente surpreendente a voz de Terry Wey quando começa a encher o espaço da sala (nesta versão do Magnificat não havia um contra-tenor): olhando para trás na sua carreira encontra-se o Vienna Boys Choir e está quase tudo dito. para além de Terry Wey, a "hugely promising mezzo" Katija Dragojevic a lembrar-me porque gosto tanto daquele timbre de voz e a encantar o mais pequeno. e o sempre amado coro Gulbenkian.

para partilhar, o Magnificat pela Orquestra Barroca de Amsterdão conduzida por Ton Koopman.
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11.
à falta das da Gulbenkian, outras notas ao programa, aqui.

pontos de vista e ponto de vista.

como Händel, Lisboa


ou seja, o que foge à descrição palavrosa.

xmas

..

Thursday, December 3, 2009

aqui há dias à minha frente


depois do cinema discutíamos se a família, se devia ter sido assim, se era mesmo o objectivo, e as cores e o preto e branco, e de repente ela tira uma pequena maçã (biológica, era de um sítio ali para os lados de __ onde as maçãs são biológicas) e gracejei com a europa e o tamanho da fruta associado a noções de liberdade, insignificâncias e ela virou-se para ele e ofereceu-lhe a maçã (queres?), assim mesmo posta à frente da cara mas de um modo doce e com um sorriso. que estranha impressão de já visto, foi assim que fomos corridos do paraíso disse-lhes eu.
a propósito da maçã gris de Daniel Blaufuks na capa de Caderno Blaufuks 1, da Tinta da China, agora à venda. mas desta não sei se está a ser desvendada (eis!) ou se vai ser coberta (afasta esse cálice). imagem de um movimento contraditório.


Magritte, O Filho do Homem. aqui, literalmente, está tudo na cara.
não há dúvida quanto ao que o bowler hat man deseja. ou há?


níveis de cor no primeiro, quatro. e no segundo, quatro. no segundo, homem quase visível, no primeiro, invisível.

entre Tróia e Setúbal

..











no Badoca Safari Park

embora seja um local admirável, ainda não me habituei ao nome.













em sines







sony color


ou outono à portuguesa. ou cada vez mais longe.

Wednesday, December 2, 2009

se calhar não devia mas

detesto as peças "a partir de textos de".

Tuesday, December 1, 2009

brisas

podia juntar véus e ficava tudo ondulante, uma cor empalidecida, um movimento confortável e pouco eufórico. seria um mundo sem gumes bruscos nem lascas ou gritos de velhas. e desse manto para outro, uma navegação fora dos trópicos sem saltos, o silêncio de uma pálpebra e chega-se a outro destino forjado, outro palacete de papel e cola branca e uma fita-cola muito antiga a cheirar a balde de resina. junto à árvore três bicicletas, porque deus assim desejou, os números são tão infiéis. pedalar, esmagar insectos debaixo da borracha da roda que vão estalando como galhos mas vi as antenas carapaças seis pernas de pressa a sair da terra com pedras e outra volta ou ondulação, nova página em que repousa um bico de pena e penugem, o farfalhar das asas. na mala de viagem das médias e já usadas acastanhada cabe um homem grande que quando lá chegar surpresa nunca tinha saído.

o meu querido irmão poeta

vai lançar outro livro este sábado, a Hierofania dos Dedos, e eu quero já convidar o planeta e galáxias adjacentes para estarem presentes. vai ser no Campo Grande 56 este sábado às sete da noite. deixo as palavras para ele.

"meus queridos amigos,

o dia mágico está finalmente a chegar. com as minhas palavras, com a voz cintilante da patrícia domingues e com a análise acutilante de rui sousa, vamos fazer deste evento uma enorme celebração da poesia. espero que todos vocês estejam presentes, que possam amar as palavras que forem ditas, proclamadas e sentidas nesse dia. estão garantidas boa disposição, muita alegria, muita poesia e muitos autógrafos.

um grande abraço para todos vós
jorge vicente"

para ir seguindo no blogue amoralva

e fica o convite

(clicar para aumentar)

Monday, November 30, 2009

uma antologia

retomando o tema.

da antologia preferi William Kentridge.





geleia de chá

por enquanto apenas consumindo a da Herdade do Negrão. primeiro a de chá de lúcia-lima, agora a de rosmaninho. também a quero, até porque gosto de escolher o chá.


primeira tentativa (daqui): uma colher de sopa de chá, 1 litro de água, 1 saqueta de Pectina e 800g de açúcar.

segunda (daqui): 1 kg de maçã amarga, sumo de um limão pequeno, o mesmo peso em açúcar, 50g de chá.

terceira, a lista de ingredientes da geleia de rosmaninho divina da Quinta do Negrão: caldo de maçã. limão, ervas aromáticas, açúcar e especiarias. (especiarias? imagino que seja canela)

não é?

"Adventures of Perception"

que nunca li mas que quem sabe. uma desculpa para tomar nota do link University of California Press (obrigada Fernando) no dia em que me telefona o Jorge para avisar que a Buchholz vai vender o resto dos livros ao desbarato este Dezembro, antes de fechar de vez. para já, aprendi Fat City de Leonard Gardner. como as cerejas.

Tetro

o que outros pensaram: 1. 2.



apesar dos seus setenta anos e de o chamado regresso de Coppola não ser bem isso (grandes realizadores dessa década, os maiores, ainda felizmente realizando filmes que provam sobre prova sobre prova aos novos que são mestres e porque é que o são), é um filme que quis fazer por seja lá que necessidades de expressão. não há regressos. tenho também algum problema com o escavar auto-biográfico que é costumeiro nestas alturas, e que o próprio incentivou. põe-se tudo de cócoras a descobrir paralelos nos vários elementos da família, quem é quem, será isto ou aquilo, nem sabia que o Nicholas Cage é seu sobrinho. um filme, como o vejo, de certeza com buracos negros imensos de falhas minhas e de vistas curtas, é uma obra acabada, uma coisa redonda que nasce e se desenvolve e acaba em si própria. se gosto de espreitar parentescos é sempre na mesma linguagem, nos outros actos de expressão do autor e na linguagem do cinema, já tão complexa ao fim de relativamente poucos anos de existência.


Tetro é facilmente o melhor filme que vi este ano deste ano. vi filmes melhores, de anos passados, o Persona por exemplo. mas Tetro é um momento que é tudo, que condensa quase tudo o que o cinema pode fazer, imagem, som, fotografia, story-telling, actuação, luzes, teatro, ópera, bailado, tudo condensado na mesma película, no mesmo ficheiro digital, uma obra maior. os seus irmãos são East of Eden (é verdade, Jorge, tentar refazer esse filme parece-me estranho) e On the Waterfront, irmãos mais velhos.

a frase final foi o que me estragou a história, uma frase equivalente a "foram felizes para todo o sempre" e mesmo sabendo que toda a história é uma ficção estética, com os largos movimentos que só se conseguem nas tragédias e na ópera, pensei que esse final não era digno de um herói caído, grego ou não. afinal foi o que não esteve lá, o calcanhar de Aquiles, e o que não faltou a Apocalypse Now, um argumento - o lado da história, a escrita.

todos os actores personagens muito bons, mesmo tendo de partilhar o espaço do ecrã com esse magnet Vincent Gallo. estou certa que quando ele entra na sala o ar congela por si só.



 
Share